06 agosto 2007

16-Diário Não-ficcional Rússia - Julho/07

Dia 15, último dia.

O bom de acordar com tempo é que podemos pensar nos sonhos que acabamos de ter. Sonhei que tinha aula de matemática, na faculdade de humanas, e não tinha feito à lição de casa. Que pesadelo, faço humanas porque tenho pavor de matemática e ainda acontece uma coisa dessas? Outro sonho tinha a ver com minhas viagens, sonhei que voltara da Rússia para o Brasil e depois iria para a Alemanha novamente, ou algo assim. O sonho final foi bem real. Sonhei que não iria para a Alemanha, mas sim para a Finlândia e depois para a Alemanha. Esse bem que poderia ser verdade, mas, quando acordado, me convenci (mais ou menos) que o melhor é conhecer mais um pedaço da Alemanha e conheceria a Finlândia com mais tempo, no futuro.

Minha andança começou, mais ou menos, ao meio-dia. Depois de um café da manhã reforçado planejei por onde andaria e assim o fiz. Dessa vez minha andança seria musical. Coloquei o Ipod e Beatles no talo, "I wanna hold your hand", "All you need is love", "Something" e dezenas outras mais me acompanharam enquanto eu andava e dançava sob o sol de uns 35 Graus. Ah! O verão! Minha primeira parada foi entre as grandes colunas próximas as fontes cantantes (ou dançantes). É lá que muitos casais vão tirar suas fotos de casamento. Os casais chegam em cumpridas limosines ou Hammersines (Eu inventei essa palavra?) e vão tirar fotos. Já que um casal estava chegando, decidi que iria esperar e tirar algumas fotos minhas. Valeu a pena. Embora seja um casamento russo reparei em alguns detalhes, comuns aos casamentos Brasileiros. Primeiro, o noivo sempre tem uma cara de estar feliz, mas envergonhado. Segundo, os amigos do noivo acham tudo muito lindo e muito engraçado. Terceiro, as mulheres sempre choram e quarto, talvez a mais sagradas das tradições, tem sempre alguma solteirona que fica arrumando o véu da noiva. Nesse casamento, alguém teve a infeliz idéia de trazer pombas brancas para os noivos soltarem para a liberdade. Oh, que esses ratos com asas voem para o céu infindo da amada Mãe-Rússia. Bom, depois de algumas dezenas de fotos dos noivos com as pombas nas mais variadas posições possíveis, é chegada à hora de solta-las para a liberdade. A noiva solta sua pomba e ela alça um belo vôo. O noivo solta sua pomba e ela... não voa. O noivo, já embaraçado com toda a situação, chacoalha, assopra as mãos e enquanto isso a noiva ri, assim como todos os convidados e, também, esse que vos escreve. Por fim, a pomba decide voar para a liberdade e deixa um presente de casamento na mão do noivo.

Eu sempre choro em casamentos.

Continuei minha andança e fui até a Fortaleza de Peter e Paul. Foi lá que São Petersburgo começou. Fica em uma ilhota e conta com museus, igreja e um grande muro que pode ser escalado e usado como ponto de observação da cidade. Antes de escalar o tal muro, resolvi me sentar e pensar na vida um pouco, pois é, amigos, hoje estava pensativo. Sentei-me em um banco qualquer de frente para a igreja, enquanto os sinos dobravam. Nem sei por quanto tempo fiquei por lá, mas valeu a pena. Quando estava alcançando a iluminação da minha vida, através da meditação, fui interrompido por um senhor que identificou-se como guia, em inglês. Agradeci e disse que já estivera ali antes e estava só pensando na vida. Ele entendeu e, ainda, ofereceu em me levar a uma loja de souvenires que tem o melhor preço de São Petersburgo. Agradeci e conversamos um pouco. Ele se chama Alex, russo, e morou nos Estados Unidos da América por alguns anos e agora é guia turístico em São Petersburgo. Me despedi e ele disse algumas palavras em português. Aquilo me fez pensar nos pontos turísticos de São Paulo e como eles são oferecidos á estrangeiros. Preciso voltar a esse tema.

Andei e andei. Passei por diversos pontos turísticos. Passei pelo Mars Field, uma belíssima praça com uma chama que nunca se apaga em memória de algum morto. Passei, novamente, pela igreja do Salvador do Sangue derramado (aquela com o Jesus crucificado com olhos abertos). Talvez não gastei o tempo necessário explicando essa igreja. Ela lembra muito a famosa igreja russa da praça vermelha. Essa mesma. Porém suas cores são mais calmas. Azul e verde dividem espaço nos grandes domos. Diversas pinturas representando passagens sagradas. Sem duvida é uma bela igreja. Entrei em um dos parques em volta da igreja e sentei-me nas escadarias do Museu Russo, que hoje esta fechado, e pensei. Acho que encontrei uma solução ou, pelo menos, os próximos passos. Não seria justo em divulgá-los, por que não sei como será.

Depois do almoço procurei livros de Stanislavsky, em Inglês, mas não achei nada. Comprei alguns souvenires para amigos no Brasil. No caminho para o hotel, pensei em posar para um daqueles Portraits que os artistas fazem caricaturas ou seu retrato em grafite, achei melhor não. Posso fazer no Brasil. Aqui tenho que ver coisas diferentes e acho que vi. A Rússia é um ótimo país e de muitas surpresas. Quem vier para cá que venha com a cabeça e o coração preparados.

No último dia de acampamento, quem leu sabe, Tatyana pediu meu caderno de viagem e minha Moleskine. Ela devolveu e escreveu algumas linhas em russo. Havia tentado traduzi-las, mas meu dicionário russo contém apenas frases que turistas dizem, como: "Eu não falo russo" e "Cerveja, por favor". Pedi, então, que a recepcionista do hotel traduzisse e assim ela o fez e a tradução, do inglês, feito pela recepcionista pode ser lida abaixo:

“... Para ser forte, para ser fraco na vida onde não se pode curar seu sofrimento com chocolate e rindo dos outros...”.

Como disse Vinicius, “... A vida é para valer. E não se engane não, tem uma só. Duas mesmo, que é bom, ninguém vai me dizer que tem ser provar, muito bem provado. Com certidão passado em cartório do céu e assinado embaixo: Deus. E com firma reconhecida. A vida não é de brincadeira, amigo. A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida..."”.

Paká

Um comentário:

Julia Cotrim disse...

Adorei a frase russa!
Pior que eu estava mesmo tentando matar a saudade com chocolate nesses últimos dias! :-\