05 agosto 2007

12-Diário Não-ficcional Rússia - Julho/07

Dia 11,  Amargo.

Hoje passaríamos o dia fora. Uma pequena viagem às fontes de Peter I, the Great, em Peterhof,  a uns 40 minutos de São Petersburgo, de balsa.

Uma guia foi contratada e no caminho do Hotel até a estação de balsas (?). Passamos por alguns pontos turísticos de São Petersburgo. Em um deles vi a única pintura do mundo, segundo os russos, em que Jesus Cristo tem os olhos abertos enquanto é crucificado. Nessa parada ganhei uma Matrioska. Matrioskas são aquelas bonequinhas russas de madeira. A boneca maior esconde uma boneca menor, dentro dela, que esconde uma boneca menor, que esconde uma boneca menor. A Matrioska que ganhei tem seis bonecas. Foi presente de Tatyana.

A próxima parada foi próxima às fontes dançantes, ou cantantes, de São Petersburgo. Enquanto tirava algumas fotos, reparei duas coisas: O comunismo virou uma coleção de itens no porta-malas de um carro soviético e que russos sabem festejar um casamento. Já havia reparado em alguns recém casados em lugares turísticos em Moscou e agora via a mesma coisa em São Petersburgo. Parei próximo ao primeiro casal e fiquei tirando algumas fotos. Não demorou em alguém [do meu grupo], se aproximar e começar a explicação sobre o que estava acontecendo. Depois do casamento no civil, os casais passeiam por alguns pontos turísticos de sua cidade e posam para fotos. Na primeira parada o casal bebe algo amargo, significando a amargura que pode ser a vida (ou o casamento...), assim que o último gole é ingerido, todos os convidados, ou transeuntes, gritam: Amargo, amargo, amargo..., em russo e o casal se beija. O beijo substitui o amargo da boca, pelo doce e todos desejam, ou deveriam, muita doçura e um final feliz para o casal. Enquanto, também, gritava "amargo", alguns convidados do casamento, se aproximaram com copos e nos ofereceram champagne. Aceitei, brindei, desejei felicidades (tudo muito bem traduzido), mas não bebi.  Ahhhhh Vinicius, que Deus te Abençoe, mas "Neste momento há um casamento" e não é sábado.

No ônibus, não entendia lhufas do que a guia falava e aproveitei para ler em meu guia de viagem alguma informação sobre São Petersburgo. Durante a II Guerra Mundial, mais de um milhão de russos morreram em São Petersburgo. Muitos morreram de fome. Os nazistas queriam apagar São Petersburgo da face da terra e mais de 30.000 bombas foram jogadas por aqui. Lia e não conseguia acreditar nisso. De qualquer forma, não foram apenas as bombas, projéteis, granadas que causaram tantas mortes, mas a fome. Não havia comida. A batalha por aqui durou 900 dias. Quando a comida começou a acabar, os sobreviventes contavam com a "ajuda" de uma ração diária de 175g de pão, com o tempo essa ração acabou. Logo os animais de estimação viraram refeição, depois os ratos e pássaros, que, simplesmente, desapareceram de São Petersburgo. A fome ainda apertava quando começaram a cozinhar a cola atrás dos cartazes. Logo mais os cintos eram cozinhados até ficarem moles, o suficiente, para serem comidos e houve alguns causos de canibalismo. Quando a guerra acabou, os "atos de bondade superaram os de vandalismo" e a cidade lentamente voltou ao normal.

Na estação das balsas reparei que existe um preço para Russo e outro preço para turista, que pode ser até três vezes maior. Como turista, achei isso um absurdo, mas eles têm razão. Mais um ponto para levar para casa.

Chegamos às fontes. Lá era a residência de Peter I, the Great, descobri que ele era muito brincalhão. Ele escondia jatos de água pelo jardim e molhava seus convidados. Ráááááá! O Sérginho Malandro poderia ser Czar, se tivesse nascido em outro tempo. Gostei disso. Peter I foi quem trouxe a capital da Rússia para São Petersburgo. Essa área era da Finlândia e virou capital após ser conquistada. Peter I abriu a Rússia para a Europa ocidental. Outra coisa engraçada é que embora a Rússia esteja, em grande parte, na Europa, os Russos geralmente se referem a outros países Europeus, como Europa, mas não a si próprios. Lembrei que o mesmo pode acontece no Brasil com o Brasileiro "médio", como diria um professor de geopolítica. Sei que sou latino, mas sempre que ouço o termo latino, acho que estão falando dos países que se fala espanhol e não de nós, Brasileiros. A língua faz com que nós, brasileiro-médios, sintamos distantes dessa latinidade.

Voltamos de ônibus e comprei mais uma Matrioska. A "boneca" maior é John, dentro dele vem Paul, depois George, depois Ringo e, dentro de Ringo há um besouro, que nojo.

Jantamos, trabalhei um pouco e saí para passear, novamente com a Tatyana. Não desisti e sentamos em algum lugar próximo ao castelo, que fica em uma pequena ilha, que é aonde a cidade começou. Ficamos conversamos abraçados, quando ela me olhou de um jeito que nunca me olharam. Senti um frio, que começou nas pernas bambas, mesmo que estivesse sentado, e foi até a nuca, que se arrepiou. Tatyana é muito reservada e tem várias cascas. Quando não quer responder uma questão, fica em silêncio e quando pergunto novamente ela diz "Schto?" (O que?) e sorri. Ok, essa já entendi. Abracei-a forte e depois de algumas investidas, sem sucesso, disse: "O próximo passo é seu". Ela é uma Matrioska e esse comentário me revelou sua boneca interior. O que aconteceu? Time will tell.

Fui dormir às 5 horas.

Paká





2 comentários:

Julia Cotrim disse...

Quero casar na Rússia!!

Joao Costa disse...

Depois de mando umas fotos com uns modelitos para usted vestir...

bjoooo!

PS. Só não esquece de me convidar.