- Tá bom!
Você venceu! O Uruguai não é um Estado tampão! - Assim Jorge deu-se por vencido
nessa, aparentemente, infinita discussão com a geógrafa Luísa.
- Não é
questão de ganhar a discussão, são os fatos. Os uruguaios lutaram para ser
uruguaios.
- Tá! Um
brinde aos uruguaios!
- Humnn...
Saúde!
- O que
você fez de bom no final de semana? - perguntou Jorge tentando trocar de
assunto.
- Toquei
trompete.
- Isso é
eufemismo para alguma coisa?
- Nada de
eufemismo.
- O fim de
semana todo?
- Claro que
não. Esse foi o ponto alto.
Jorge não sabia exatamente como continuar a
conversa. Luísa era apenas uma conhecida desconhecida.
- Que legal.
Trompete! – Disse Jorge sem saber como continuar a conversa, mas incapaz de
trocar de assunto – Faz tempo que você toca trompete?
- Não. Um
ano, um ano e pouco. É bom para relaxar. Respiração e concentração. Na sexta à
noite, peguei meu carro, fui para o meio do mato, parei e toquei.
- OK... –
Responde um incrédulo Jorge.
- Cara, é
sério! – Respondeu Luísa.
- Acredito.
É que... Por que você iria até o meio do mato para tocar trompete?
- Porque é
silencioso. – Respondeu Luísa.
Luísa e Jorge não compartilhavam a mesma
opinião sobre o que é o “silêncio”. Jorge achava que o silêncio era apenas a
ausência de som, enquanto Luísa não. A conversa continuou. Jorge perguntava.
Luísa respondia. Jorge explicava. Luísa ouvia e, aos poucos, foi se iluminando
a escuridão do desconhecimento mútuo.
Hoje, passados anos da discussão sobre a origem
do Uruguai, Luísa toca seu trompete e Jorge a ouve em silêncio.