24 outubro 2008

A casualidade

Há alguns meses vi na Globo News uma entrevista com um escritor mineiro que busca contar histórias em poucas linhas. Acompanhei o programa e gostei muito de um conto chamado “A Casualidade” e, recentemente, encontrei  o tal conto.

O nome do escritor é Carlos Herculano Lopes e o conto, em questão, está no livro “Coração aos Pulos”. Espero que gostem.

Conto: A Casualidade

Em uma madrugada, quase de manhã, um rapaz ainda jovem, entrando nos seus vinte e cinco anos, pegou um táxi.
Resultou que ele, calado por índole ou costume, estava voltando de uma festa na qual, entre amigos, havia tomado umas cervejas.
Talvez só isto, a sensação de estar alegre, o tenha feito puxar conversa. Era muito reservado com estranhos.
Por sua vez o motorista, costumado a ouvir, deixou que ele falasse.
Aquele diálogo, provalvelmente, não passaria de um a mais dos tantos que se travam noite adentro se de repente o rapaz - sabe-se lá porque - não houvesse confessado que era de Santa Marta, onde, quando criança, um tal de Jardel havia matado o seu pai.
O motorista, que até então ouvia em silêncio, sem prestar muita atenção, sentiu um calafrio, um leve tremor nos lábios e o volante vacilou enquanto voltavam na sua memória cenas de um crime que ele tentava esquecer.

21 outubro 2008

Próxima estação

Não pratiquem esportes até o corpo não aguentar mais. Aliás, pratiquem esportes até o corpo pedir arrego e quando isso acontecer, aluguem filmes para ajudar durante o descanso. Assim terão o melhor de dois mundos: O prazer de alguma atividade física e o prazer do entretenimento e da informação no conforto do seu lar, acompanhado ou não.


No último final de semana tive o prazer de passar o sábado chuvoso sob um teto. Mais especificamente o teto do meu apartamento alugado aqui na Austrália. Ora, não digo isso para esbanjar, mas sim para lembrá-los que posso pagar por tal comodidade porque trabalho e, apenas trabalho, porque estudei e o custo de minha educação foi financiado por meus familiares. Embora me julgue um rapaz esperto, sei que só cheguei aqui pois fui bancado por meus pais e avós e, claro, que me criaram em um ambiente onde eu e meu irmão nos sentíssemos amados e protegidos.  Poderia discorrer alguns parágrafos sobre isso, mas voltemos ao assunto.


No sábado passado eu resolvi, como muitas vezes, alugar alguns filmes. Aluguei diversos filmes que me entreteriam e matariam a saudade do Brasil. Nesse contexto, aluguei blockbusters hollywoodianos e outros filmes, mas o achado do final de semana, quiçá da minha vida, foi o documentário “Ônibus 174”, dirigido por José Padilha (Tropa de Elite).


O documentário retrata um assalto, que se transformou em um sequestro, com reféns que aconteceu no Rio de Janeiro, em 2000, e que, infelizmente, voltou ás mídias brasileiras devido ao trágico sequestro ocorrido recentemente em Santo André, São Paulo, por um motivo torpe e com um desfecho cruel. Muitos, a primeira vista, tentariam categorizar os dois eventos dentro de do mesmo eixo, mas eu afirmo que, embora ambos sejam crimes hediondos, eles diferem no quesito da previsibilidade. Quando, por Deus (teu Deus), poderíamos prever que um louco enciumado, maior, sequestraria e mataria sua ex-namorada de apenas 15 anos, como no mais recente caso de violência no Brasil?


No documentário “Ônibus 174”, percebemos que o sequestrador é um produto da nossa sociedade, do descaso da sociedade e esse descaso, multiplicado á personalidade de certas pessoas, só poderia resultar nos terríveis atos de violência que acontecem diariamente.


Ter um carro blindado é normal, vermos garotos dormindo nas ruas é normal, “carteiras-do-bandido” são normais, soldados garantindo seu direito de voto é normal, o medo de ir e vir é normal. Até quando? Até quando? Esse tipo de coisa NÃO É NORMAL e, infelizmente, acontece todo os dias, sem que se dê atenção a isso. Olha só como o Brasil e Austrália são países bem diferentes. Há, mais ou menos, 1 mês uma mochileira australiana, aqui de Melbourne, foi para a Croácia e desapareceu.  A mídia mostrava imagens dela e todo mundo buscando entender o que se passou. Bom, há duas semanas acharam o corpo da garota em um rio qualquer na Croácia e aqui a sociedade está revoltada e organizando detetives particulares para descobrir o que aconteceu e quem fez o que fez, caso alguém tenha participado disso.


Porque na Austrália essas coisas tem tanta importância? Primeiro porque isso não é normal, por aqui. Tenho a impressão que aqui as pessoas são consideradas pessoas, independentemente de quantos dóllares se tem na carteira. Sei que isso tem a ver, também, com o tipo de cultura e percepção horizontal que eles tem a hieraquia no país, Ex:Você é meu chefe no trabalho e eu te respeito por isso. Fora do trabalho você é um cidadão como qualquer um e tem os mesmos direitos e deveres que eu tenho. No Brasil a coisa é mais embaixo, os “bacanas” ou influentes, geralmente, escapam das punições e muitas cadeias são feitas para o pobres, que, talvez, não seriam tão pobres se tivessem tido as mesmas bases que alguém de melhores condições sociais teve.


Será que algum dia o Brasil poderá se orgulhar de construir mais escolas do que presídios? Aonde todos terão condições de competir igualmente no mercado de trabalho, social, cultural e etc. Todos as pessoas são especiais e com as ferramentas certas podem se tornar excepcionais.


Qual é a solução? Fugir para a Austrália? Não, fugir não é a solução e eu não ficarei aqui para sempre. O Brasil é, para mim, o melhor lugar do mundo e pode ser ainda melhor, caso importemos algumas coisas boas que vemos pelo mundo a fora. A cada viagem eu coloco mais algum pensamento na cabeça de como podemos melhorar nosso país e espero viver para ver isso acontecer. O Brasil é a sua casa e o que você faz quando a sua casa precisa de um reparo? Você a repara (imagino que alguns espertinhos pensaram: Eu me mudo) e a melhora.


Parafraseando Cazuza, na canção Brasil, eu digo “Brasil! Mostra tua cara. Quero ver quem paga. Pra gente ficar assim.”


Eu não quero mais ficar assim. Eu quero mudar minha casa para melhor e você?

07 outubro 2008

Pra Valer



É muito bom, mas não é filme
Não tem "pausa", ou " play", que mude o que sinto
É diferente, toda essa gente
Mas o glamour só existe pra quem mente

Antes de tudo, em busca de um abrigo
Depois da janta, um sorriso
Se não encontro, não me aflijo
Respiro fundo e de novo estou perdido

Nas janelas, as novidades
No trem da esquema, cumprimento a saudade
Eu vejo flores e não é nada mal
Acendo o fogo e mando um sinal

Longe assim, pois assim escolhi
Só vou voltar, quando tiver fim
E passa logo, é só querer
Enxuga a lágrima, que a vida é pra valer

E assim vivo o meu dia-a-dia
E acabando com a agonia
Momentos bons e alegria também
Eu fecho os olhos, mas o sono nunca vem.