27 novembro 2008

Individualidade

     É fato que a característica mais presente no século XXI é a individualidade. Note que usei a palavra “característica” e não “qualidade”. Apesar de que a qualidade “individualidade” também é louvável.


     Cada vez mais deixamos o coletivo de lado e focamos nos nossos benefícios. Até aqueles que se preocupam em ajudar o próximo estão cada vez mais escassos, já que estes também se cansam de dar murro em ponta de faca. Pois é, amigo, a vida não anda fácil. Todo mundo tem que se virar para sobreviver e nessa de levar a vida cantando “eu não ajudo ninguém, porque ninguém me ajuda” é que vamos entrando em uma espiral que desembocará no rio do malogro coletivo.


     Seja como for, vou contar um causo que ilustra o ponto feito no paragráfo anterior.

     Na cidade de um compatriota, todos vivem ocupados e correndo de lá para cá sem apreciar as belezas, ou as peculiaridades, da cidade. A vida não é fácil, como em todo lugar, e a maioria cisma em  não ter tempo para apreciar a velocidade da existência.

     Em um dia qualquer, desses que o trânsito bate recordes e a insegurança também, ele [o compatriota] estava em um ônibus qualquer rumo ao seu trabalho. Ônibus lotado, diga-se de passagem, mas ainda haviam alguns lugares no corredor para os passageiros que ficariam em pé.

      Lá pela metade da viagem um acidente ocorreu. Acidentalmente, acreditamos assim, o ônibus atropelou um jovem rapaz,  que aparentava uns 20 e poucos anos e se somarmos as variáveis horário, aparência e livros espalhados, logo presumiremos que o jovem rapaz era um estudante, mas poderia ser um trabalhador, um pai de família, mas o que lhe valem essas características agora?

     Todos os passageiros se entre olharam apreensivos e preocupados e suas mentes começaram a relacionar aquele evento com suas próprias caminhadas errantes.

     O Motorista pensou: “Aí, Meu Deus!”

     A maioria dos passageiros pensou: “Aí, Meu Deus, vou me atrasar !”

     E o único que pensou “Chamem uma ambulância, pelo amor de Deus !”, agonizava entre o meio-fio e os carros, coletivos e caminhões que seguiam seu fluxo.

25 novembro 2008

O Menor Livro do Mundo

Prólogo

     Talvez esse não seja o menor livro do mundo. Não por não acreditar nisso, mas por me faltar a leitura de todos os livros do mundo. Há, dizem por aí, livros menores do que este, tanto em extensão, como em qualidade, mas por juízo, consideração ou receio, me furtarei de tecer qualquer comentário.
    Todo livro começa pelo começo, ora pois, cria sua fundação, chega ao clímax e dá seu desfecho, isso segundo as normas e bons costumes, porém sinto lhe informar que este livro não atingirá o clímax nas próximas linhas, mas o antigirá, certamente, em algum lugar do futuro.
     Convenhamos, estas linhas não são de um livro, mas de uma carta. Uma carta que contará novidades, pedirá conselho e ajuda. Não cabe a este, que vos escreve, faltar com a verdade: jamais. Porém, comecemos pelo princípio.
     Cumprimentos
     Olá, tudo bom?
    Creio que faz um tempo que não conversamos, mas sabemos que isto não importa entre nós. Ao menos eu acredito, nessa, e considero essa possibilidade. Como anda a vida? Torço para que os estudos estejam fluindo, o trabalho lhe sorrindo e o teu par por lhe convir (Não escrevo "lhe convir" por deboche, mas por não encontrar outro termo).
    Aqui, ando bem. Pensou que a distância romperia nossa conexão? Errou. Lhe escrevo para contar, como informei no prólogo, uma novidade e para pedir conselho e sua ajuda.

A Novidade

    Pedi demissão. Sim, sim, finalmente. Sei exatamente o que você deve estar pensando, mas sei que tomei a decisão certa. Estou morando em um país de primeira, devido ao emprego que aqui tenho (tinha), mas é chegada a hora de dar outra direção a minha vida, pois os anos avançam e, infelizmente, sinto que as infinitas possibilidades, aos poucos, ganham características finitas. É hora de domar essa besta, que chamam de vida, pelos chifres.
    Trabalharei até alguns dias antes do natal, cumprindo o aviso prévio, no dia seguinte  embarco para minha viagem ao sudeste Asiático (Vietnam, Cambódia e Tailândia), e retorno para este país poucos dias depois do novo ano. Devo ficar por aqui alguns dias e depois retorno ao Brasil. Ano Novo, vida nova. Não é este o lema?

O Conselho
     Sei que você é moça sabida e pode me ajudar. Já trabalhou em vários lugares e conhece muita gente. Já conversamos sobre isto, mas vou relembrá-la das minhas cinco profissões dos sonhos, sendo, por ordem de importância: 1) Compositor de canções hare-krishna; 2) Mestre Jedi; 3) Caixeiro viajante (do tipo que não se transforma em barata); 4) Correspondente Internacional; e 5) Diplomata.
     No próximo ano pretendo construir as fundações para as profissões 4 e 5 (Corresponde internacional e Diplomata). Não creio que tais profissões sejam opostas e creio que você também não.
     A profissão de diplomata é muito nobre e muito me interessa. Sei que tal profissão atrai muitos e poucos passam pela peneira do órgão brasileiro responsável pela instrução de nossos diplomatas. Sei que não é uma tarefa fácil, mas este é um plano para dois anos. Inicialmente, pensei em investir o próximo ano entre estudos, mas para quem trabalhou pelos últimos 10 anos, isso ainda me parece improvável. Preciso sair de casa, preciso interagir, preciso aprender. Por isso desenterrei a possibilidade de investir na pós-graduação em jornalismo, durante o próximo ano e encontrar algum estágio que permita que eu trabalhe, na área, e que me sobre tempo para estudar para o concurso de admissão a carreira diplomática. Ainda não tenho certeza se este é o caminho certo. E alguém ter certeza ? Ainda não sei se conseguirei apenas estudar, pois preciso, como todos (até os hare-krishna) do vil metal.
     O que você acha dessa possibilidade?

A Ajuda

     Como abri o capítulo anterior, sei que você já trabalhou em vários lugares e conhece muita gente. Inclusive trabalhastes naquela agência de notícias internacional e é aí que quero chegar. Será eles empregariam, como estágio, quiçá algo mais, um jovem, que passou dos vinte há poucos dias, formado em relações internacionais (um internacionalista), que, em breve, ingressará, ou não, (Caetano e Gil se orgulhariam de mim, ou não) em uma pós em jornalismo?
     Olha que beleza, na represa, ter as duas formações. Aquele apresentador do jornal noturno daquela grande emissora fez o caminho contrário e até foi capa de revista. Ele é formado em Jornalismo e fez pós em Relações Internacionais. 
     Poderia me passar o contato de alguém na agência de notícias, ou até, caso prefira, indagar alguém sobre este assunto ?

O Desfecho

     O desfecho está em construção.

A despedida

     E é assim. Espero que esteja tudo bem. Beijos e até mais. João.

 

17 novembro 2008

Crônica de uma não vida noturna internacional

Como alguns de vocês sabem: eu sou um boêmio. Talvez não seja um boêmio no sentido clássico da palavra, mas me considero um, desde que, há alguns anos atrás, recebi uma ligação de meu avô, em um sábado a noite, indagando porque seu neto, beirando os vinte anos, é tão boêmio. Porque um jovem de quase vinte não seria boêmio?

Segundo o escritor João Ubaldo Ribeiro, a "velhice não está na mente, está nas juntas". Seja como for, acho que estou em uma fase de poucas baladas. Eu disse poucas e não "zero" baladas e também assumo que não tenho tanto interesse em sair por sair, sem a companhia dos meus amigos, também boêmios,  que estão ligeiramente distantes deste que vos escreve. Calma aí, quem mudou fui eu, então sou que estou distante? Eu acho.

Há algumas semanas, uma conhecida, que aos poucos se torna uma amiga, veio morar nessa cidade onde, temporariamente, habito. Ela é um ou dois anos mais nova do que eu, mas sinto que em alguns, senão vários, pontos somos bem diferentes. O que é ótimo, pois aprendo com isso e espero que ela também.

Ela chegou na cidade e o termômetro dela é a vida noturna. Eu, que já estou aqui há poucos meses a mais do que ela, já tive o mesmo ímpeto, mas quantidade não é qualidade e me dou satisfeito por minhas caminhadas, pedaladas e meus passeios solitários imersos a contemplação das novas praças.

Sábado passado eu e minha amiga almoçamos em um restaurante qualquer em Chinatown e aproveitamos para trocar experiências sobre a vida Australiana. Tais experiências não cabem aqui, pois são produtos de mentes ociosas que ainda enxergam tudo com o olhar de quem ainda percebe diferenças entre o Brasil e a Austrália.

Neste sábado, ela sairia para a balada com duas outras amigas brasileiras que conhecera no Brasil e que, por sorte ou destino, estão morando em Sydney (Moro em Melbourne). Fui convidado a participar, mas tinha outros planos para o meu final de semana. Terminamos o almoço, batemos pernas pela cidade por mais algumas horas e nos despedimos.

Horas mais tarde recebo a primeira das duas mensagens de texto, por celular, que me divertiriam pelos próximos dias.

Às 22:48 recebo a primeira mensagem: "Tô aqui na Cheers, adoreiiii, vem pra cá. Beijos".

Repondi que ficaria em casa, mas desejei que se divertissem e que pegassem todos. Eu já falei que tem mais homens do que mulheres por aqui?

Fui dormir.

No domingo ensolarado, porém frio, percebo que havia recebido outra mensagem de texto, enquanto dormia.

Às 01:02 recebi a segunda mensagem: " O que acontece com essa porra de cidade que eu já gastei mais de 60 dólares e ainda não tô bêbada? Aliás, aqui fede a suvaco sujo. Não estou mais gostando".

Pronto, agora eu entendo porque existem os tais "esquentas".





04 novembro 2008

Memória no meio do caminho

Se estivesse vivo, Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, completaria 106 anos no último 31 de outubro. Não que esse cálculo seja importante, ou não, mas me parece que o Brasil carece de heróis literários e culturais. A cultura e educação não são exaltadas e nosso presidente declara que “ler é um hábito chato” e outras personalidades se gabam de nunca terem lido um livro.  
O poeta de Itabira, Minas Gerais, produziu várias das mais belas construções poéticas da língua portuguesa. Lembro  que o poema “No meio do Caminho” não me inspirava a nada, durante  minha infância, quando o li em alguma cartilha de português, mas hoje em dia ele é muito mais significativo. Porém o poema que mais me identifico é o poema “Memória” (abaixo ambos). 
Apenas para não passar em branco e relembrar que o Brasil é capaz de produzir muito mais do que jogadores de futebol e mulheres frutas. Vai Brasil!


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão

                -//-

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


03 novembro 2008

conselhos.com

Buenas tardes,
 que bom receber o seu email. Sério. Estou em uma segunda-feira daquelas. Ah! Que saco! Tenho que assumir que escrevi para você como desabafo, porque esperava que você fosse a boa pessoa para dar conselhos e foi. Um amigo diz que as pessoas só pedem conselhos quando não querem admitir para elas mesmas que a melhor solução é a que já descobriram, ou algo assim. Você entendeu.
Não sei se sou bom de conselhos. Acho que é mais fácil "analisar" os outros porque não colocamos as variáveis emotivas (que só quem sente sabe o peso que elas tem) no nosso julgamento.
Mulher, eu já descobri que a minha busca por algo que realmente me agrade vai durar muito mais tempo do que eu imaginava quando tinha uns 10 anos de idade. Naquela epóca eu acreditava que chegaria aos 25 anos casado, com 1 (ou até 2 filhos(as)) e meu carro seria uma pick-up. Pois bem, os anos passaram e aqui chegamos.
 Acho que decidir o que se quer da vida é  uma tarefa, no nosso caso, complicada. O mundo tem muitas possibilidades e isso é bom e ruim. Talvez o primeiro passo é saber o que você não quer para a sua vida. Parece fácil, mas quando colocamos ás variáveis dinheiro e idade... Shiiii. Tem uma música do Jeff Buckley que se chama "Lover, you should've come over" e em uma parte ele diz "Too young to hold on and too old to just break free and run". Acho que estamos nessa frase, mas mesmo assim podemos ter o melhor dos dois mundos.
 Hey, geralmente, o plano B é conhecido por ser o segundo plano e deveríamos deixar ele para depois. Há algum tempo eu vi uma entrevista com o Samuel Rosa, vocalista do Skank, e ele, quando indagado porque ele achava que a banda dele havia feito sucesso, disse, com aquele jeito mineiro, que [a banda] “só deu certo porque eles não tinham um plano B”. O que não resolve nosso problema.
 Eu, agora, só busco o próximo passo.
Como se tenta descobrir o próximo passo ? Prato simples e fica pronto em alguns anos, dependendo da fome.
1) Descubra as coisas que gosta de fazer. Pode ser viajar, aprender outras línguas, conhecer outras culturas e etc.
2) Coloque as coisas que não gosta de fazer no armário.
3) Adicione amigos, conversas despretensiosas e alguns litros de chopp.
4) Deixe descansar, na memória, enquanto se ocupa dos afazeres diários.
5) Encontre a coisa que mais se aproxime da coisas que gosta.
6) Se a coisa que mais se aproxima do que você gosta tiver as coisas que você não gosta, coloque tudo na balança e decida se vale a pena. Se não, procure por outra coisa.
(O chopp com os amigos é só para passar o tempo e não esquecer que eles estarão lá por você quando a coisa apertar e vice-versa)
 Bom, ás vezes funciona :-) e foi assim que eu descobri a faculdade que queria fazer e é assim que estou descobrindo o meu próximo passo que, provavelmente, não será o último. Além disso, estou fundando a IUPP (Igreja Universal do Próximo Passo). Ela não será conflitante com nenhuma outra religião, ou seja, você pode continuar sendo católico apostólico “romântico”. Terá um Deus, que será chamado de “Teu Deus” (se você não tiver um Deus, ela não terá um), respeitará os santos, os profetas, os sacerdotes, os messias, os pastores, os padres, os obreiros, os coroinhas (acho que você já entendeu) e pregará que nessa vida o importante é ser feliz, aproveitar todos os dias, sabendo que um dia será o último e descobrir qual será o próximo passo, enquanto carnal, vivo, encarnado e por aí vai. Quer se filiar? Basta erguer sua mão e aceitar que a vida é pra valer. Hohohoh
Fico feliz por você e o pelo seu carinha. Eu gosto dele e apesar de tê-lo visto poucas vezes o "fulano " mora no meu coração, hohoho, que gay.

Bjohnnies

PS. Não tem problema nenhum em ter tatuagem.