05 agosto 2007

10-Diário Não-ficcional Rússia - Julho/07

Dia 9, Resolvendo conflitos.

Pensei que essa semana, com as crianças, seria tranqüila. Tenho alguns livros para ler e imaginei que os leria a noite no hotel, mas não é nada disso.

Na noite passada fui dormir às 3h30m e acordar às 7h00 não é fácil, mas vamos lá. Tomamos café e voltamos ao cliente que fôramos ao dia anterior. Hoje o dia seria mais prático e eu poderia participar um pouco mais das atividades. Logo que chegamos o dono da gráfica deu um pequeno curso sobre computadores Apple. Para muitos, era a primeira vez que viam um Mac. A apresentação foi toda automatizada. Um computador para cada dois adolescentes, mas a automação da apresentação só permitia que os adolescentes observassem o que o instrutor fazia. Era visível o desespero dos pequenos, que queriam colocar a mão no mouse e fazer a farra. Em um momento o instrutor, talvez por ter percebido a angústia juvenil, permitiu que "brincassem" um pouco. Em pouco tempo descobriram a câmera embutida no Mac e o software que a opera. Pronto! Haviam modernizado o espelho. Olhavam-se, dançavam para a câmera e se divertiam com os muitos efeitos disponíveis no Mac. Tirei muitas fotos, inclusive dos mais tímidos, que riam.

Foi feito um calendário com algumas fotos dos participantes e esse trabalho seria impresso na própria gráfica, enquanto os jovens estivessem por lá. E lá vamos todos, para mais um passeio pela gráfica. Acho que senti certo desapontamento quando foram informados que deveriam descer para o parque industrial, mesmo com as máquinas funcionando. Descemos e quando viram o que estava sendo impresso: Nossa! Todos correram para cima da impressora e tirei muitas e muitas fotos daqueles olhos curiosos.

Filosofia barata.

Qual foi a última vez que viram os olhos curiosos? Acho que a idade tira isso de alguns. Depois de um tempo, achamos que, tudo fica previsível. O casamento, os filhos, as primeiras palavras, as promoções no trabalho, os apertos financeiros, as viagens à praia, os pequenos acidentes, os muitos sorrisos, as saudades, as novas alegrias e as últimas palavras. O cotidiano dá e tira muito. Encontrar o ponto de vida e vivência não é trabalho para gente grande. Definitivamente não é trabalho para gente grande. Quando somos gente grande? Espero que ainda cultive um pouco desse olhar curioso. Não quero que tudo fique chato e previsível, mas sei que todo mundo procura o seu pote de ouro e isso por diversos caminhos, só porque não estão no mesmo caminho que o meu, não significa que estão perdidos.

Voltamos mais cedo e passamos em um parque. Curiosamente é o parque que há apenas dois dias houve um show do Rolling Stones. Já no ônibus, tive que agüentar sono enquanto discutíamos um produto para apresentarmos a noite. Faríamos uma brochura, desses como mapas dobrados, sobre turismo. Não sabiam o que fazer e sugeri que fizessem uma guia do hotel em que estávamos hospedados. Idéia aceita, mas o que escrever? Já que é para brincar de inventar, vamos criar. As mais bizarras histórias apareceram. Sabiam que o grande Ivan IV (ou terrível) foi assassinado em um dos quartos, isso mesmo, do quarto andar? E sua alma ainda volta, vez ou outra, para assombrar os hospedes que se recusaram a acreditar nisso? Além do mais, durante a II guerra, nos 18 meses que São Petersburgo ficou entre bombas e tiros,  muitos quadros raros, prata e ouro nos mais variados formatos ficaram estocados por aqui? E acham que é só isso? Foi aqui que os companheiros Bolcheviques fizeram o seminário que terminou na revolução de outubro que deu origem a URSS. Estão pensando que é pouco? Vladimir Putin, presidente da Rússia, já se hospedou aqui e disse: "Budocrátic" (algo como "serei breve"), eu recomendo.

Precisava dormir de qualquer jeito. No hotel, ainda tinha uns 18 minutos antes do jantar. Dormi. Foram os doze minutos com mais sonhos por R.E.M. que já tive. Escrever sobre os sonhos é difícil, mas em um deles eu era o guarda-costas do Roberto Carlos (El cantor) e ele morria. Bem, ele não morria. Existia uma teoria que ele havia fingido a própria morte e estava morando nos Estados Unidos. Hey, o nosso Rei é Rei até quando morre. Roberto Carlos e Elvis. Bem que algum DJ poderia fazer uma mixagem com esses dois. Seria um enorme sucesso.

Preparamos a brochura e apresentamos. Estava muito boa e com todas as histórias que inventamos... Eu digo, descobrimos sobre o Hotel. Chegamos a terceiro lugar, mas não afetou ninguém. Já no ritual de agradecimento, com as velas, senti-me triste: Foi a primeira vez que percebi que essa semana iria acabar. Como tudo na vida acaba.

Havia combinado que, depois da reunião dos instrutores, iria passear pelo rio com Tatyana, mas a reunião que iria durar quinze minutos acabou durando duas horas.

Bom, fica para amanhã. Vou dormir, já são, novamente, 2h00.

"Sou um passáro que vive avuando, vivo avuando sem nunca mais parar  ai ai ai ai saudade, não venha me matar"

Paká



Um comentário:

Julia Cotrim disse...

Hahaha... você e sua nóia pelo Roberto Carlos!!