25 julho 2007

01-Diário Não-ficcional Russia - Julho/07


Depois de uma longa jornada, finalmente estou vendo a grande e iluminada cidade Vermelha: Moscou.

Porém, vamos começar pelo começo. Agora são 3h30 da madrugada de segunda-feira, 23 de agosto, aí no Brasil são 20h30 (domingo). Chegar aqui não foi uma tarefa tranqüila. Quem me conhece sabe o quanto adoro viajar, mas com a idade e os meus cabelos brancos (Sim, eles se multiplicam a cada mês) tenho mais medo de voar. Toda vez que passo por uma turbulência eu digo, a mim mesmo, que essa será a última viagem aérea, mas isso dura até o próximo convite e/ou oportunidade de conhecer esse mundão-velho-sem-porteira, sô.

Já que comecei falando de turbulência, vamos lá. O vôo de São Paulo até Munique (11 horas de vôo) foi bom, bom porque tomei 3 cápsulas de Dramin e dormi boa parte dessas horas. Embora, vez ou outra acordasse com um cutucão do meu vizinho chileno viajante ou com alguma balançada do avião e posso creditar a tranquila viagem á leve "viagem" proporcionada pelas novas companheiras sonífero-alucinógenas - Viva o Dr. Dramin! Dispensei o jantar e acordei a tempo do café-da-manhã, creio eu, já em espaço aéreo Alemão, pois no café tinha uma boa Wurst.

Gruß Gott!

Pousamos em Munique às 13 h e pouco, porém eu teria que esperar até às 21 h para embarcar com destino a Moscou. Não quis sair do aeroporto, mas não ficaria à-toa. Resolvi ir gastar o meu escasso alemão no primeiro café que vi. Pedi um Panini Pollo, sem nem pensar no que era, pedi um café-com-leite, sem nem informar o tamanho e uma garrafa de água, sem gás, no entando, sem perguntar o preço;-) Agora lembrara porque é tão caro viajar para Europa, mas que é chic, é!

Comprei uma revista sobre música e ora lia, ora ouvia músicas e hora vai e hora vem, embarquei no vôo final.

"São apenas 3 horas",  vai passar rapidinho, porém não contava com um pequeno temporal no caminho. Da janela eu via as nuvens embranquecerem com os raios, a asa pender para cima e para baixo e o reflexo do meu rosto na janelinha. Nessa hora quero ver quem é macho. Quando nos vemos em perigo o cérebro envia sinais elétricos para a parte [do cérebro] responsável pelo pensamento lógico e manda para o espaço todas as estatísticas que você, por ventura, já ouviu dizer sobre o quão é seguro voar. Como não pensar no recente acidente da TAM, em São Paulo, e todos aqueles filmes bacanas com acidentes aéreos, mas eu sou esperto e consegui enganar minha cabeça pensando pensava no filme "Vivos", aquele que cai nos Andes e os sobreviventes têm que comer carne humana para sobreviver... "Eccaaaaa", alguém pode pensar, mas eles sobreviveram, não?

Para passar o tempo, puxo papo com meu novo colega viajante. Um jovem pianista russo de 20 anos que voltava a Rússia depois de uma apresentação na Itália. Funcionou, o tempo passou e logo depois o comandante retirou os avisos de "apertem os cintos" e uma longa decida começou.

Moscou é vermelha. Vermelha e burocrática. Levei uns bons minutos observando a funcionária da imigração preencher formulários, checar dados e comparar a cara de um viajante cansado com a foto de um carinha no meu passaporte. Deu tudo certo e quando fui liberado minha mala já esta na esteira. Maravilha, agora é só pegar a mala, coloca-la nas costas e correr para o abraço. Tudo tranqüilo a empresa, em que trabalho, tem uma filial aqui e a filial russa já havia cuidado de arranjar alguém para me apanhar e me trazer para o Hotel. Maravilha, maravilha, Maravilha? Hey, Maravilha? Maravilha? Aonde esta o motorista com um cartão com o meu nome ou o nome da empresa em que trabalho? Shiiii! Nesse meio tempo um senhor com um inglês a altura do meu grego (que aprendi e, parcialmente, já esqueci, das aulas de matemática do 1. grau) oferece serviços de Táxi. Eu agradeço e digo que alguém irá me pegar, mas sem paciência volto e informo-o meu destino. "I know, I know...Its Dollar, Euro or Roubles?", pergunta o mercador de pobres turistas indefesos. "Roubles", repondo. "Its five thousand". Cinco paus? Nem fodendo! Tento argumentar com ele, mas ele chama seu interprete que já possui um inglês a altura do meu russo (Adivinha só a altura do meu russo). Depois de alguma negociação fecho por $ 2000 Rublos e tenho certeza que fui enganado.

No táxi, outro motorista, que não falava comigo. Imaginava o momento em que ele sacaria uma arma e diria algo incompreensível em russo e atiraria. Poxa, que culpa eu tenho se o imperialismo cultural americano só mostrava isso da Rússia. Alguém aí lembra dos filmes de James Bond (Eu sei que ele não é Americano), ou o clássico da sessão da tarde: Gotcha. Enfim, o rádio esta ligado e, mesmo em russo, entendo as palavras Brasil, Futebol e Argentina. "Ya Brazilian, Futebol, Harashó", digo ao motorista. Ele responde "São Paulo... Pelé... Café". Eu repondo "Vodka...Hahashó". Que bela conversa, penso eu. Já estou fazendo amigos, tudo bem que tenho que pagar a viagem, mas viva o Pelé e chupa, Argentina.

O hotel é antigo. Fica, segundo o motorista, a 10 km da Praça Vermelha. Apenas 20 minutos de metro me separam da "praça". Pronto, estou em casa. O hotel deve ter uns 20 andares, de fora, com suas luzes de neon, lembra um bingo. Dentro percebo que este já foi um hotel de luxo, mas o luxo deve ter caído junto com o muro de Berlim. Enquanto estou sendo atendido pela recepcionista observo 3 garotas, provavelmente de programa, sentadas em outro ponto da sala. Recebo meu RG de hotel, que deve ser apresentado toda vez que entrar no hotel e um voucher que seria trocado pela chave do meu quarto do 15. Andar com uma lady. Ok, Spassiba. Reparo que apenas 4 dos 6 elevadores, dispostos 3 de cada lado, funcionam e reparo que os elevadores do lado direito servem os andares pares e imagino que os da esquerda servem os andares ímpares (Realmente, eu sou muito foda), mas noto que esqueceram de colocar o 15 na placa que mostra os andares servidos, mesmo assim vou em frente e acho o número 15 nos botões do elevador. Depois de procurar um pouco, acho a lady dormindo em uma pequena sala próxima aos elevadores. Entrego-lhe o voucher, ela me fornece a chave e corro para meus aposentos. É um quarto estranho, antigo, limpo, mas simples. Um frigobar, um banheiro, uma TV e coisas típicas de um hotel simples.

Tiro a roupa e o previsto acontece. Meu chulé é tão forte que tenho vontade de incendiar minhas meias. Todo um banho demorado, mas o chulé só adormeceu e logo voltará para me envergonhar. É assim e sei que todo mundo já passou por isso.

Ligo para casa e informo que já estou bem e que vou dormir. Esta tudo bem e eu estou bem. Estou excitado de estar aqui e não consigo dormir. Estou no berço de grandes pensadores e no palco de grandes acontecimentos do século passado  e sei que ainda há muito mais para acontecer. Bebo, relutante, uma garrafa d'água com gás, enquanto admiro o sol nascer.

Paká

3 comentários:

Julia Cotrim disse...

Aee!
Eu tb quero ir pra Rússia!!

E quero mais fotos!!

Flavio Chan disse...

Balalaika!

Silvia Marcal disse...

Vc e a água com gás.
Legal vc estar sempre viajando, mais um diário para eu acompanhar.