29 julho 2007

04-Diário Não-ficcional Rússia - Julho/07

Dia 3, pouco sono e muitos sonhos.

Dormi pouco esta noite. Fui dormir tarde e acordei por volta das 4 h da manhã, sem sono. Pensei que estava ficando doente e acho que estava, mas não iria me deixar abater. Fiquei olhando pela janela por um bom tempo e o tempo bom que fizera nestes dois últimos dias foram embora. Ao longe reparava em alguns raios, de perto a rua molhada e em cima algumas nuvens, que já não molhavam mais nada. Tentei voltar a dormir e não consegui. Assim, fiquei assistindo TV e lendo sobre cultura e antropologia, em um livro do Laraia (como somos íntimos).

Ontem combinei, durante o jantar de negócios, que seria apanhado por uma colega russa de trabalho, a Irina, que me levaria ao trabalho. Ela havia me dito que enviaria uma mensagem por celular informando quando me pegaria, pedi que ela me ligasse, mas ela re-confirmou o envio da mensagem. Não insisti. Tomei café da manhã e até às 9 h nenhuma mensagem. Preferi voltar a dormir, prometendo a mim que ligaria para o escritório mais tarde e assim que adormeci o telefone toca e sou convocado, por Irina, a descer, pois ela me aguardava na recepção e me levaria ao escritório. Banho rápido e vamos lá.

O escritório fica em um prédio agradável, também no norte de Moscou, fica próximo a um parque e uma lagoa (como se fizessem um prédio de escritórios dentro do Ibirapuera). A empresa é locatária de dois andares dentro da universidade gráfica de Moscou e divide o show room de nossos equipamentos entre demonstrações para clientes e estudantes apaixonados na arte de colocar  tinha em papel em equipamentos monstruosos. Fico imaginando quando eles substituirão essa paixão, pela paixão de colocar muita tinta, em muitos papéis, em pouco tempo e por muito dinheiro.

Cumprimento os funcionários, enquanto me acomodo. Tento falar algumas palavras em russo, mas logo volto para o inglês e percebo que será um dia de trabalho solitário, para mim, no trabalho, já que apenas duas, das seis pessoas falam inglês a ponto de estabelecer uma duradoura conversa. Tudo bem, eu vim aqui para "trabalhar" e a conversa pode esperar. Em pouco tempo, acompanhado de meu guia de conversação, me faria de palhaço ou de viajante bobinho e me comunicaria com os locais. A cada dia fico mais abismado em como todo é passível de comunicação. A comunicação vai muito além da palavra, embora a palavra seja um dos principais pilares da cultura, a comunicação envolve tudo. Por sorte, agradeço por ter puxado um pouco do sangue do meu avô, que tem um carisma que já me irritou, na minha infância, mas que hoje desperta curiosidade e uma boa inveja. Tudo bom, papos feitos, gelo quebrado, fui checar meus emails. Nada demais, alguns emails curiosos de amigos, outros profissionais ( a maioria) e alguns SPAMs vendendo VIAGRA pelo menor preço (O marketing da Pfizer é, mesmo, muito bom. Já estão anunciando para um futuro público potencial impotente). Respondi meus emails e comecei a explicação do projeto que fazemos no Brasil e começou na Australia para a funcionária russa. Não foi uma tarefa fácil, tive que explicar bem devagar e desenhar um pouco, mas com paciência e algumas consultas ao dicionário, deu tudo certo. Fui almoçar com duas colegas, Pavla, a estagiária Tcheca e Irina, e elas não paravam de falar, em russo. Foi engraçado estar do mesmo lado dos colegas que vão ao Brasil e não falam português e nós, brasileiros, as vezes por costume e/ou por sacanagem, só falamos em português. Voltei do almoço e trabalhei nos dados do cliente russo, terminei, apresentei e há pouca coisa que possa ser feita com isso, porém chegaremos lá. Mais tarde fui informado que daria uma volta por Moscou com Nikolai e Irina (a funcionária) e depois jantaríamos em algum lugar. Hora certa, me despedi e saímos.

Moscou é uma cidade radial. Existem alguns anéis que circundam a cidade, algo como um rodo anel urbano que parece uma 23 de maio, a avenida paulistana que liga tudo. Já reparam que a 23 de maio esta em, pelo menos, uns 50% de todos os caminhos que fazemos em São Paulo? Quando digo 23 de maio, ignoro os demais nomes que ela tem, como Rubem Berta e Washington Luis, pois para mim a 23 de maio começa no extremo sul de São Paulo, Interlagos e vai até a Zona Norte. Esqueci o bairro. Enfim, Moscou é uma cidade radial. Segundo os Moscowitz, Moscou tem a forma de um relógio e os pontos cardeais foram, informalmente, substituídos pelas horas em um relógio. Quem vai para o Norte diz que vai para às 12, quem vai para o Sul diz que vai para às 6 e por aí vai.

Tivemos que dar a volta por Moscou inteira até chegar na universidade de Moscou. Em alguns momentos, quando ignorava os anúncios em russo, tinha plena certeza que estava em São Paulo, devido ao trânsito infernal. Chegamos á universidade e tirei muitas fotos e acho que ficaram boas. Passeamos mais um pouco e Nikolai queria, de qualquer forma, me mostrar um bairro e lá vamos nós ao novo bairro comercial de Moscou, que é basicamente o site de construção de uma série de prédios comerciais e, entre eles, o mais alto prédio da Europa. Estranhei a vontade que Nikolai tinha em me mostrar aquilo, mas aquilo é um grande cartão de visitas para uma economia em crescimento, queiram os críticos ou não. Depois de tanto trânsito estávamos com fome e Nikolai nos levou em um restaurante Georgio (da República de Geórgia, no Cáucaso), fiquei empolgado com a decisão, pois tenho uma amiga de lá e vai ser legal contar para ela que comi sua comida nativa. Quando fui informado que comeríamos um típico churrasco Cáucaso, tive que falar das churrascarias no Brasil, mas quando provei as diversas carnes no prato em que nos deram. Agradeci por aquilo. Pois é, amigos: Pensava que poderíamos colocar as churrascarias na lista de bens, único, tipo-exportação, mas os "caras" já chegaram lá. Comemos muito, como em uma churrascaria e esqueci da minha possível doença.

Foi um bom e tranqüilo dia.

Paká.

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