06 outubro 2009

Nós, viajantes.


Antes de tudo, vamos acordar que viajante não é turista. Que isso fique bem claro. Para mim, o turista viaja e vê, enquanto o Viajante viaja e sente! E todos sabem que os sentimentos são uma das poucas coisas que permanecem.

Já viajei um bocado, mas sei que ainda há muitos outros lugares que sentirei. Como é normal, ás vezes, alguns sentimentos e memórias, das minhas viagens, voltam para me visitar e hoje me lembrei de algumas pessoas que fizeram parte delas. Como a garota da República da Geórgia, ou a inglesinha lésbica por quem me apaixonei ou, até mesmo um jovem pianista russo que conheci em um vôo turbulento.

Todas essas pequenas passagens, com essas grandes pessoas, fazem parte de mim.

Aproveito esse espaço para compartilhar algumas dessas pessoas. Começo, então, pelo começo.

Minha primeira viagem internacional um marco em minha vida. Fui, virgem de, quase, tudo e sabia que ficaria um bom tempo pela Europa. No final das contas passei 1 mês em Londres e quase 6 meses perambulando na casa de amigos pela Alemanha. Isso foi em 2004.

Durante ess mês em Londres conheci Khatuna Kopaliani. A moça da Geórgia me ensinou que, no exterior, as pessoas se revelam.Ambos sofrendo de carências juvenis. Andávamos de mãos dadas e compartilhávamos o que sentíamos e as impressões do que vivíamos. Provavelmente teríamos nos relacionado (sacou?) se não fosse um Alemão que gostava dela. No final das contas ninguém pegou ninguém. Mantivemos contato por um bom tempo e guardo, em algum lugar, as fotos do casamento dela com um russo. Pelo que sei, ela ainda vive em Londres.

Em 2006 fui para a Austrália e estiquei minha viagem até a China. A China é um lugar

diferente e cheia de gente curiosa. Por diversas vezes eu era parado por estudantes que queriam conversar com estrangeiros pelo prazer (ou necessidade) de praticar inglês. Era na época pré-olimpíadas, e aprendi que, na China, quem fala inglês consegue vaga nas melhores escolas. Aprendi muita coisa sobre aquele país durante algumas sessões de chá com os estudantes. Isso aconteceu em diversas cidades.

Infelizmente não mantive contato e a única lembrança material que tenho são algumas fotos.

O ano de 2007 foi o ano em que eu mais me apaixonei (até hoje). Conheci uma russa em um treinamento da empresa em que trabalhava. Ela é apenas um ano mais velha do que eu, mas foi a primeira mulher que conheci. Ficamos duas semanas juntos, passeávamos, conversávamos e ela me ensinou que, de fato, as mulheres amadurecem mais rápido que nós, pobres

homens. Ainda mantemos contato (Ela casou e já tem um filho!) e foi ela que motivou minha ida para a Rússia, também em 2007.

Saí da Austrália, porém, antes de voltar para o Brasil, resolvi passar alguns dias na Nova Zelândia. Viajei sozinho. Fui para a ilha Sul e lembro que meu roteiro foi montado em um post-it (que guardo) por dois estudantes alemães que estavam saindo do albergue em que passei a minha primeira noite neozelandesa. Por causa deles eu fui parar em uma cidade de 450 habitantes chamada Franz Joseph.

Franz Joseph merece um "carinho" especial.

Depois do passeio diário na cidade, estava eu lavando minhas roupas na lavanderia do albergue. Lá, sozinho, ouvindo minhas músicas no Ipod (Go Apple), lavando minhas cuecas... de repente aparece uma ruiva que mexeu com meu coração. Ela puxou assunto e ficamos conversando um bom tempo. Aprendi que ela e uma "amiga" estavam viajando pelo mundo e por isso trabalhavam no albergue em que eu estava. Elas trabalhavam, economizavam e partiam para a próxima cidade, ou país.

No final dessa conversa de lavadeiras, ela me convidou para tomar uma cerveja mais tarde no, talvez único, bar da cidade. Claro que aceitei. Conversávamos de tudo e nós, entre algumas cervejas e diversas tequilas. Entre conversas em que nossos narizes quase se tocavam descobri que o lance dela era o mesmo que o meu e a "amiga" era não só sua companheira de viagem, mas também de vida. Decepção. Ainda mantenho contato com ela. Ela voltou para Leeds e trocou de namorada (Pelas fotos, acho que ela leva uma vida bem agitada).


A ruivinha e sua amiga.God bless facebook.

Bom, mas a coisa mais inusitada e absurda que me acontece nessa cidade eu vou contar agora.

Como teria poucos dias para aproveitar a terra do kiwi e do Senhor dos Anéis, resolvi conhecer apenas a ilha sul. Como disse, fiz meu roteiro com a ajuda de dois viajantes alemães no albergue de Christchurch. Fiquei alguns dias por lá, depois peguei um ônibus até Queenstown (a cidade dos esportes radicais). Nesse ônibus, um como qualquer outro, havia um casal que falava alemão – Até aí nada demais – Percebi que não era um casal, mas uma mãe viajando com o filho. Falo alemão, mas não tenho ouvido para identificar a região ou o país que aquele falante, no caso, de alemão é proveniente.

Em quase todas as paradas até o destino, esse “alemão” me cumprimentava e eu assentia com a cabeça – nada demais. Cheguei em Queenstown e fui para o meu albergue.

Alguns dias depois. Muito cedo, aguardo o ônibus que me levará até Franz Joseph. Não demora muito vejo o tal “falante de alemão” e sua mãe na plataforma. Ele me cumprimenta e pergunta sobre o ônibus para Franz Joseph. Respondo que ainda não chegou e que aguardo o mesmo ônibus. Conversamos casualidades e descubro que ele é Austríaco e está acompanhando a mãe nessa viagem, pois ela era apaixonada pela Nova Zelândia, sem nem saber porque e nem falava inglês.

Inglês para quê? O fundamental para ser um viajante é um sorriso e uma vasta gama de gestos.

Embarcar e partir.

Chegamos em Franz Joseph e eu vou para o meu albergue (estão prestando atenção? Ainda lembram da história da inglesa lésbica, não?) e faço o meu roteiro na pequena cidade. Em algum momento dessa curta estadia ainda nos vemos na cidade de duas ruas e só.

Hora de voltar.

Cedo, muito cedo para quem estava de ressaca e sofrendo por uma paixonite não correspondida, chego na parada de ônibus e vejo o meu “amigo” austríaco por lá. Dou bom dia e pergunto sobre o ônibus. Sem saber que teria uma das conversas mais surpreendentes da minha vida.

- Você é do Brasil, não? – Ele pergunta.

- Sim. – respondo tentando fazer o mundo parar de girar.

- Eu tenho uma amiga brasileira.

- Legal, de onde ela é? – (Puta merda, lá vem mais um gringo falar de uma “amiga” brasileira).

- De São Paulo. O nome dela é J____ N____.

- O quê? J____ N____?– Digo com surpresa.

- É. Você não tem uma camiseta que está escrito “Pozilei)? (Pozilei é uma brincadeira com a palavra polícia em alemão: Polizei).

- O quê? Hã? A J____ N____ é uma das minhas melhores amigas no Brasil.

Vamos encurtar a história. A J____ N____ é uma das minhas melhores amigas no Brasil e conheceu esse austríaco via internet há um bom tempo. Creio que em 2005/2006 a J____ N____ foi para a Europa com um outro amigo e ambos, quando visitaram a Áustria, foram ciceroneados (Eu juro que adoro essa palavra) pelo Austríaco em questão. Ele sabia que eu tinha a tal camiseta porque viu as fotos, online, de um réveillon que passei com essa amiga.

Puta merda! E eu não joguei na mega-sena? Se eu tivesse jogado, eu não estaria com tempo para escrever nesse blog. Se é que vocês me entendem...

Conversamos e cheguei até mandar um SMS para essa minha amiga, mas acho que ela só acreditou (se tiver acreditado) quando viu a foto do encontro.

Acho que é em momentos como esse que você percebe que ou o mundo é pequeno demais ou a renda é, realmente, muito mal distribuída.

Voltei para o Brasil.

Ainda em 2007 fui para a Rússia. A Rússia foi uma das melhores viagens da minha vida, até agora, e detalhei muito bem o que aconteceu por lá em uma série de diários, mas essa história fica para outro momento. (já escrevi demais, não?).

Esses foram alguns exemplos. Perdi a conta dos muitos outros amigos que fiz. Alguns deles são "amigos descartáveis”, mas todos eles ainda moram na minha cabeça e coração.

Eu tento ser um viajante e acho que estou conseguindo.


Até a próxima...


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