O dia começou com uma discussão. Filho e mãe, embora sejam, quase que, iguais, sempre discutem.
- Não sou surdo, precisa gritar sempre? - Diz o filho.
- Você nunca faz o que te peço! - Retruca a mãe.
- Nunca? Nunca? Você tem as estatísticas aí? - Gritou, logo antes de bater a porta do quarto.
Esse filho não é mais criança para o mundo, mas seus pais e ele não o sentem assim.
Será assim para sempre.
Assim esperam.
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Trancado no quarto, lê sua correspondência.
Porque falamos aos outros o que gostaríamos de ouvir?
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O vizinho morreu. Será enterrado hoje a tarde.
Era um senhor de seus 70 anos. Não me lembro do rosto dele. Sei que morava com sua esposa, agora viúva, e uma filha problemática, mas dócil.
Não quero ir ao funeral. Para quê? Por sentimentos aos vizinhos que não conheço? Outros farão o papel diplomático, eu não. Hoje eu não quero sair de casa.
Penso no velho.
Será que ele, quando tinha a minha idade, também era imortal?
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A noite terminou bem. Comemorei mais um ano de vida. Não sofri nenhum sintoma de "inferno astral". Que bobagem.
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