12 maio 2009

Vila


Vivo no mesmo bairro há 25 anos. Tenho 27 anos e um poderia imaginar que este bairro possui papel de destaque em minhas memórias. Sim, ele ocupada boa parte das minhas recordações, porém minhas recordações mais queridas são de um outro bairro que habitei nos dois primeiros anos de vida.
Como poderia eu, ainda bebê, guardar na memória experiências de uma idade, agora, de mim tão distante? Não sei, mas digo que me lembro das caminhadas matinais que fazia com minha avó até a feira, lembro dos cachorros vadios que nos acompanhavam em troca de um pedaço de pão e, mais do que tudo, lembro de como os filhos dos vizinhos, ainda crianças, mas vistos por meus olhos, pareciam seres independentes e maduros.
O meu mundo, ainda, era restrito a algumas ruas, alguns sorrisos, lojas de miudezas e, até, de um barbeiro em que meu pai, hoje careca, e eu, ficando careca, íamos a cada dois meses.
Creio que é impossível eliminar a nostalgia quando penso naquele bairro. Não consigo separar a geografia do sentimento. Ainda, hoje em dia, todas as vezes que por lá passo, sinto o coração aos pulos e vejo o garoto que acompanhava o mundo pelo vão das grades do portão.


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