Se estivesse vivo, Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, completaria 106 anos no último 31 de outubro. Não que esse cálculo seja importante, ou não, mas me parece que o Brasil carece de heróis literários e culturais. A cultura e educação não são exaltadas e nosso presidente declara que “ler é um hábito chato” e outras personalidades se gabam de nunca terem lido um livro.
O poeta de Itabira, Minas Gerais, produziu várias das mais belas construções poéticas da língua portuguesa. Lembro que o poema “No meio do Caminho” não me inspirava a nada, durante minha infância, quando o li em alguma cartilha de português, mas hoje em dia ele é muito mais significativo. Porém o poema que mais me identifico é o poema “Memória” (abaixo ambos).
Apenas para não passar em branco e relembrar que o Brasil é capaz de produzir muito mais do que jogadores de futebol e mulheres frutas. Vai Brasil!
Memória
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão
-//-
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
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