17 abril 2008

Insônia.


“ ... A minha fúria era só um tempero naquela irresistível  exuberância, não foi ela que afastou os outros de mim, mas a minha morte. Todos os dias me levanto, engulo uma xícara de café e vou para o túmulo. “ –  Trecho extraído do livro “Aos Meus Amigos” de Maria Adelaide Amaral.
            De todos os possíveis males da vida a adulta, o mal que mais me persegue é  a insônia. Sou ansioso desde não sei quando e aprendi a ser, ou melhor, aprendi que essa ansiedade faz parte de mim e mantém em mim o que mais me orgulho: A curiosidade. Durante muito tempo, por falta de conhecimento de um vernáculo mais apropriado, chamei esse sentimento de “frio na barriga”, o que não deixa de ser verdade.
            Já tentei muita coisa para eliminar ou destruir essa ansiedade que tira meu sono e aumenta minha gula e enquanto a “solução” não me encontra, ou eu a encontro, vou me divertindo no meu solitário recanto.
            Lembro-me de desejar, muito, poder voltar no tempo, porém, sabendo  exatamente o que sei hoje. Nunca, até então, havia pensado no que havia vivido, mas somente no poder dominador que existe em segundas chances. Atire uma pedra que nunca pensou em voltar para a quarta série “B” e falar algumas bobagens para a professora que cismava em pegar no pé de quem não fazia a “lição de casa”. Coisa engraçada. Como algumas palavras e expressões tão corriqueiras de outra epóca hoje são apenas alegorias de um tempo, apenas, cronologicamente distante.
            Hoje, enquanto buscava um R.E.M. que se preste, resolvi dar atenção ao latente desejo de imaginar como seria o típico dia de um aluno do primário, claro que este seria este que vos escreve, mas sabendo o que sei hoje. Todas as vezes que gaguejei quando não fizera alguma tarefa agora seriam respondidas com um ar de superioridade não adquirido até então.  Todas aquelas piadinhas/pegadinhas seriam superadas. Minha principal arma não seria meu tamanho, mas minha astúcia. Brigar para quê?  Seria o “king” das aulinhas de inglês e as temíveis aulas de matemática... bom, as aulas de matemática continuariam do mesmo modo, assim como aquela hesitação ante o sexo oposto...
            Em sumo, haveriam milhares de coisas que faria, certamente, diferente. Enquanto prosseguia na minha “nova” vida imaginada, me deparei com sérios problemas logísticos. Ora, um bem sabe que o hoje é resultado dos feitos e desfeitos de ontem. Como encontraria, novamente, meus amigos e amores de hoje? Como convencer você de que eu, embora um desconhecido, poderia ser um grande amigo ?
Humnnn. Voltar no tempo sabendo o que se sabe hoje tornar-se-ia uma grande desilusão.
            Assumo que tenho nostalgia dos tempos de outrora, mas sei que Drummond preenche a minha alma por escrever que  “...as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.” Pouco tempo depois, adormeço e sonho que já é dia e está na hora de continuar com o sonho de Adão.


3 comentários:

Julia Cotrim disse...

Se eu te conheço bem, esse frio na barriga poderia muito bem se chamar sehnsucht. Não?

Joao Costa disse...

Sehnsucht total.

Anke Mader disse...

...essa sua foto é de dar medo!!