06 setembro 2015

Cheiro



       Um casal de noivos caminha em um shopping qualquer de uma cidade qualquer. Depois de horas caminhando, buscando móveis para a casa na qual irão viver depois do casamento, chegam à praça de alimentação.
       - Nossa! Sente o cheiro disso? – Pergunta o noivo.
       - Quê? – Responde a noive.
       - Esse cheiro! Cheira como infância. Minha infância!
       - Tá louco? Tem cheiro de BigMac!
       - Isso não. Tem cheiro de pão de forma com queijo, mas não é só isso. Tem cheiro de pão de forma com queijo, achocolatado e maçã.
       - Que cheiro específico, hein?
       - Minha mãe botava isso na minha lancheira. Sempre o mesmo lanche até a oitava. Aqui tem cheiro da minha infância.
       A mulher ouve tudo aquilo, olha para aquela gente devorando seus hambúrgueres, olha para seu noivo e nada diz.
       - Com 33 anos mataram a Jesus. Com 33 um português descobriu o Brasil. E eu? O que faço?
       - Eva Perón morreu aos 33 – Complementa, sem jeito, a noiva.
       - Verdade... – Diz o noivo, enquanto pensava aonde sua vida chegara. Sabia que não podia retornar. Tudo vai para frente e para a linha de chegada.

...

       O casamento foi incrível. Pouco tempo depois engravidaram, tiveram um filho e hoje é seu primeiro dia de aula. O, agora, marido, prepara a lancheira do filho, mas o cheiro não é mesmo de sua infância, embora se esforce na tentativa de reproduzi-lo. Enquanto prepara o lanche, deseja que seu filho faça as coisas que ele não fez e assim queremos acreditar que somos imortais.


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